quinta-feira, 22 de julho de 2010




Romance Erótico por:
Alexandre Pinheiro


Colaboração e Pesquisa:
Vanny Hernandes


PREFÁCIO


Dizem que para um homem ser completo na vida, ele tem de ter um filho, escrever um livro, e plantar uma árvore! Talvez eu devesse ter começado pela árvore já que de todas as obras é a que dá menos trabalho. Basta regar e acompanhar o crescimento(risos).
Mas Deus preferiu que eu primeiro tivesse o filho. A qual dedico essa obra que estou fazendo nesse momento, e que juntos ainda plantaremos a nossa primeira árvore um dia!
Para os pretendentes a escritores assim como eu, vai aqui uma grande experiência, pois juntos vocês poderão acompanhar a confecção de um livro. Coincidêntemente começei a escrever 2 dias antes do dia do escritor. Dia 25 de julho. E se você já leu as primeiras linhas e voltar a ler novamente, poderá encontrar pequenas modificações, que não mudam a essência da história, mas apenas detalhes para dar mais realidade aos fatos que se cruzam no decorrer do livro!
Estou descobrindo que escrever um livro, requer muita pesquisa, seriedade, paciência, amor ao que se propõe fazer e dedicação, para que possa o leitor desfrutar de uma mágia chamada " LEITURA".
Peço desculpas pelos meus deslizes de português e pela minha inabilidade em talvez não conseguir me expressar com mais eloquência ao narrar os fatos.
Para facilitar a leitura, e não se perder onde parou, já que você está lendo em tempo real que o livro vem sendo escrito, você encontrará pontilhados numerados, (......)1, (......)2 Que mostram de onde recomeça a nossa história.


Espero realmente que gostem! Está sendo feito para vocês e com muito carinho !


"Filhos podem durar muitos anos, mas ainda assim, um dia morrem! E nunca serão esquecidos!
Árvores, podem durar séculos, mas ainda assim, também morrem! E talvez não sejam lembradas! Livros são para todo o sempre! Uma vez lido, jamais será esqueçido! "



Luis Alexandre Pinheiro




Esta é uma obra de ficção
onde qualquer nome, personagem, lugar,
fato ou tempo aqui descritos são produtos
da imaginação do autor! Qualquer semelhança
com fatos reais é mera coincidência!
Obrigado e boa leitura!


Ps.: Os pontilhados ( ...... ) mostram de onde retomamos o texto!






PARTE I



A CHUVA


Março de1989. 4:26m de uma madrugada chuvosa.

Pelas ruas da cidade de Esperantina poucas pessoas se aventuravam a enfrentar a ventania e o frio aquela hora. Mas Marcus precisava ir ao encontro de seu amigo Paulo para marcar a data da viagem que deveria ser em breve. O dia em logo amanheceria e não deveriam perder tempo!


Os carros passam apressados e não percebem uma jovem andando solitária pela rua. Desprotegida de um guarda-chuva sequer. Atônita, e murmurando palavras sem sentido.


Marcus que está preocupado com o horário, pois está atrasado para encontrar Paulo, mas percebe um vulto de mulher entrando num beco escuro, e resolve ver quem é já que conhece quase todos da pequena cidade. Maltrapilha e cheirando mal ela não procura abrigo para o frio e para a chuva, mas sim para a vergonha! Marcus se aproxima lentamente, receoso e com cautela oferece sua jaqueta para protegê-la.


Mas ela como que em um salto de susto, se afasta pelo beco estreito e some correndo pelas vielas apertadas diante dos olhos de Marcus que não reconhece a bela moça que ali estava. E se pergunta:


_ Quem será essa garota?


Lembrando do compromisso com Paulo, retoma seu caminho, mas sem conseguir tirar a linda moça da cabeça! O que teria acontecido com tão bela criatura pra estar assustada assim e perdida por ali! Ele teria de descobrir e após encontrasse com o amigo iria fazer isso!


A imagem dos lábios carnudos da linda mulher não lhe saia da mente. Mesmo mal vestida e com aparência sofrida, ela despertou nele um encanto de mulher!


_ Ei Marcus! Aqui! (Grita Paulo)


..onde você está com a cabeça homem? Estou gritando feito maluco e você parecia em outro planeta! Diz Paulo ao amigo com expressões de risos.


_Realmente estava perdido em meus pensamentos! Responde Marcus.


E entrando no carro de Paulo continua:


_E então, tudo preparado?


_ Sim! Vamos ao consulado agora que os passaportes estão comigo! E não temos tempo a perder!



Eles seguem o curso em direção ao consulado! A chuva bate no pára-brisa forte e o vento aumenta sua força! Enquanto seguem, Paulo fala com Marcus sobre detalhes para o embarque, mas Marcus está avoado pensando onde estará àquela garota que viu no beco, qual será o seu nome?! E sabe que não pode falar nada ao amigo que iria criticá-lo por não estar concentrado no que era realmente importante! A viagem a Amsterdam!


Chegando ao consulado, Paulo e Marcus entram para conseguir o visto para a viagem a Amsterdam.


(......)1


Marcus, com a imagem da cena vivida poucos instantes antes, nem se da conta que estão praticamente com os vistos nas mãos.


Enquanto isso, no outro lado da cidade, a mulher que fora vista por Marcus se esconde sob uma marquise de uma loja de departamentos. Ainda muito assustada sem saber ao certo quem era aquele rapaz que lhe oferecia uma jaqueta, procurava entender tudo que estava acontecendo, já que as últimas horas não tinham sido muito agradáveis.


Ao encostar-se à porta da loja que estava fechada, percebeu que tinha algo no bolso de trás de sua calça que a incomodava. Ao verificar o que era, percebeu um envelope bastante volumoso. Abrindo o envelope, encontrou documentos, e um passaporte, além de um maço de Cruzados Novos (moeda recentemente criada pelo governo) e centenas de dólares. E sem entender ou recordar de onde ou de quem era aquele dinheiro abriu o passaporte para ver de quem era. Para seu espanto, o passaporte tinha a sua foto, mas o nome não lhe soava conhecido: Andrea Castro Queiróz.


Ela então ficou ainda mais confusa! Pois, só agora se deu conta de que não reconhecia o lugar onde estava ou mesmo se aquele era seu nome que não lhe parecia familiar. Decidida a entender o que estava se passando e com forte dor de cabeça, saiu em busca de um lugar para se abrigar e tomar um banho. Era preciso saber oque estava acontecendo.


Separou uma nota do maço de dinheiro e entrou em um hotel para se refazer e tentar lembrar de algo!


Ao entrar no hotel, a recepcionista a olhou receosa, uma mulher bonita, mas visivelmente suja e mal-cheirosa. Pensou se tratar de uma pedinte. Mas ao ver a nota de 100 dólares, se prontificou a providenciar o quarto. Fez menção de guardar o documento e lhe entregar a chave do quarto dizendo:


_Pode subir dona Andrea! Aqui está a chave. Quarto 17. Disse a recepcionista entregando à chave a mulher e conferindo atentamente o dinheiro em suas mãos.


Enquanto Andrea subia para o quarto, lembrou de que precisava do documento para tentar entender o que havia acontecido, e voltou para pegar o passaporte.


A recepcionista que a olhava de canto de olho e pegava o telefone de maneira suspeita enquanto devolvia o documento para Andrea que percebeu a desconfiança da recepcionista. Mas deveria ser por ela estar suja e mal vestida.


Andrea assustada com o ar desconfiada da recepcionista ficou com o passaporte e pediu para não ser incomodada! Tinha de descansar!


(......)2


O hotel era simples e com aparência antiga! Na recepção um telefone velho e uma televisão também antiga, em cima da televisão um pequeno abajur ajudava a iluminar o ambiênte e mostravam que o pequeno hotel era pouco freqüentado. Na parede desgastada pelo tempo alguns quadros retratavam o período em que a cidade fora construída. Ao entrar no quarto, Andrea fechou bem a porta, e encostou o corpo nela como quem procura causar a porta, para ter certeza de que ninguém iria entrar ali naquele pequeno quarto que era seu castelo naquele momento.


Assustada ainda com tudo o que estava passando tentou recordar o que tinha acontecido. Mas não se lembrava de muita coisa. Ou melhor, não se recordava de praticamente nada! Apenas de ter conseguido escapar da boléia de um caminhão que estava parado no posto à beira da estrada. E de ter discutido com um homem estranho pouco antes. Com a cabeça ainda doendo foi em direção a janela do quarto, olhar para fora em busca de respostas que poderiam explicar tudo o que estava acontecendo. A chuva forte lá fora era a única coisa que lhe trazia lembranças dos últimos momentos que havia passado na rua! Aquele homem com aparência serena, que lhe oferecia uma jaqueta, apesar do susto lhe trazia confiança! Mas não era hora de pensar naquilo, ela tinha muitas coisas mais a descobrir!


Como teria ido parar naquele lugar? Que dinheiro era aquele? Andrea? Andrea? Não! Esse nome não parecia nada com um nome que teria ouvido a vida toda!


Fechou a cortina do quarto com medo de que alguém pudesse estar observando-a. Mas no instante em que puxava o pano velho da cortina viu o letreiro do hotel que acabará de se apagar com os seguintes dizeres: “Hotel Flor da Noite” e no prédio em frente ao hotel uma placa dizia: “Lavanderia Esperantina”.


Ela nunca antes na vida dela havia ouvido aquele nome “Esperantina”. Pegou então um catálogo telefônico que estava na cabeceira da cama e percebeu que se tratava de uma lista telefônica da recém criada Unidade Federativa do Tocantins. Tocantins? Onde raio ficaria Tocantins? Será que ela estava enlouquecendo? Ainda mais assustada se perguntava como teria ido parar em Tocantins?! Porém se deparou com o dilema de que sequer sabia de onde era, e para onde estava indo na boléia daquele caminhão! Mas se lembrou de que reconhecerá a foto do passaporte e que ela era a moça do retrato! Foi ela então em direção da pequena cômoda de madeira velha, com poucas gavetas, que estava ao lado da porta, e onde havia colocado o pacote com o dinheiro e os documentos. Abriu o passaporte e observou atentamente a fotografia.


Olhou para o espelho da cômoda e finalmente reconheceu um rosto conhecido! O dela!


E percebeu que a foto daquele documento era recente! Ela era realmente linda! Morena clara, com cabelos negros e lisos na altura do ombro! Sobrancelhas grossas e bem definidas mostravam que se tratava de uma mulher de fino trato. Mas aquelas roupas não se encaixavam com sua aparência. O documento dizia que ela tinha apenas 19 anos. Era jovem e de corpo escultural! Não era alta! Pernas grossas e bem torneadas, e uma pele bem cuidada! Realmente era uma mulher linda! Reparou que havia um pequeno corte em sua boca! Passou levemente a mão em seus lábios carnudos como se eles pudessem responder onde se cortará.


Passado algum tempo se observando resolveu tomar um banho e descansar um pouco. Não iria conseguir respostas sem algumas horas de repouso. Quem sabe após um banho relaxante e algumas horas de sono lhe trariam as respostas tão desejadas.


Ao caminhar em direção ao banheiro, ouviu passos no corredor. Na ponta dos pés se aproximou da porta, e encostou a cabeça no aviso de regras do hotel, na tentativa de ouvir algo do lado de fora. Pode ouvir vozes de duas ou mais pessoas conversando, mas não conseguira entender sobre o que falavam. Ao notar que as vozes se afastavam, certificou-se de ter trancado bem a porta e foi ao banheiro para tirar aquelas roupas e tomar um bom e refrescante banho!


Ligou o chuveiro para esquentar a água enquanto se despia. Ao retirar a calça percebeu que a parte inferior da calça estava suja de sangue! Mais essa agora! De quem era aquele sangue?! Olhou para o seu corpo e não encontrou nenhum ferimento! Mas de quem era aquele sangue?! Teria ela cometido algum crime?! O dinheiro! O nome que não parecia familiar apesar do documento! Era tudo muito estranho e isso a assustava muito! Pois o fato de não se recordar o que havia acontecido tornava tudo ainda mais assustador!


Conferiu a temperatura da água do chuveiro e entrou a se lavar como quem tenta lavar não apenas o corpo, mas a alma! Passava a mão sobre os cabelos molhados e os torcia, deixando escorrer uma água preta de sujeira que saia de seu corpo. Pegou um pacotinho com um sabonete e como se fosse o melhor sabonete do mundo percorria seu corpo que agora começava a relaxar e ficar limpo. Entre a espuma e a água suja que escorria pelo ralo se misturavam lágrimas de alívio e de angustia. Após um bom tempo sobre a água quente pode relaxar! Pelo menos o chuveiro daquele lugar prestava! Cansada, desligou o chuveiro e se enrolou em uma toalha bege que estava no aparador do banheiro! A toalha não tinha perfume, mas era limpa! No pretexto de falar com a camareira pegou o interfone que a princípio parecia não funcionar. Deu alguns tapas no mesmo e conseguiu sinal.


_Recepção! Atendeu a recepcionista.


_Por favor! Você poderia me mandar uma troca de cama? Disse Andrea com voz firme!


_Claro! A camareira levará em instantes! Respondeu a recepcionista.


Após alguns minutos, ela ouve batidas leves na porta. Aproxima-se da porta e cautelosa pergunta quem é!


_Roupas de cama senhora! Respondeu a camareira.


Andrea abre a porta, e ao invés de pegar a roupa de cama das mãos da camareira, pedi que ela entre no quarto! A camareira atende sem entender nada. Aquela garota linda enrolada apenas em uma pequena toalha mostrando as lindas pernas torneadas, e de corpo bem feito, o que poderia estar querendo?!


Andrea olhou para a camareira e disse:


_ Preciso que me ajude! Posso pagar!


A camareira deu um passo para trás e falou assustada:


_Não sou disso não moça! Desculpe!


Andrea esboçou um sorriso e com graça puxou a camareira pela mão como quem quer fazer amizade e conquistar a confiança da camareira que ainda parecia assustada com aquilo tudo! Sentou-se na cama deixando aparecer ainda mais suas lindas pernas, e rindo disse:


_Deixe de bobeira mulher! Preciso de outro tipo de favor! Sofri um pequeno acidente e minhas roupas estão sujas e mal cheirosas. Então pensei se você não poderia comprar algo para mim em alguma loja aqui perto para que eu possa me refazer! Com essas roupas não posso sair daqui! Você pode me ajudar?


Estendeu a mão para a camareira com uma boa soma daquele dinheiro que ela ainda não sabia de quem era, mas que naquele momento lhe era útil!


_Tome! Compre algo que você usaria e me traga! Fique com o troco!


A camareira pegou o dinheiro, olhou firme para Andrea e pediu que ela ficasse de pé. Andrea atendeu ao pedido sem entender o que queria aquela pálida moça com quem conversava, mas de quem precisava naquele momento.


A Camareira se aproximando de Andrea passou as mãos pela cintura da linda morena contornando aquele lindo corpo envolto apenas na toalha do hotel e cheirando a sensualidade!


Um pouco assustada agora, Andrea olhava atentamente para a mulher e sentiu um arrepio pelo corpo sem entender nada!


_Deve ser tamanho médio né? Perguntou a camareira.


Um pouco constrangida Andrea sem ter certeza confirma! Fazendo uma observação:


_Experimente você a roupa! Nossos corpos não são muito diferentes! Se servir em você, servirá em mim!


_Mas dona! Só poderei ir quando sair do serviço! Agora estou cheia de coisas pra fazer e se sair agora posso até perder o emprego! Disse a mulher com voz serena.


Andrea prontamente respondeu:


_Claro! Não tenha pressa! Preciso descansar mesmo! Vou dormir um pouco e não tenho pressa! Mas te aguardo aqui no fim da tarde! Combinado?


_Está combinado sim senhora! Após as 18h00min horas eu saio pra buscar o teu pedido e lhe trago depois! Bom, agora tenho de ir, se não vão sentir minha falta! Mais uma coisa...


_Não comente com ninguém o que me pediu dona! Não posso fazer favores para os hospedes! A moça me entende né?


_Sim! Claro! Fique tranqüila que ninguém saberá de nada! E caminhando até a porta se despede da camareira que sai feliz com o dinheiro em mãos colocando-o na alça do sutiã para que ninguém veja.


Andrea fecha a porta e se tranqüiliza um pouco! Poderia dormir um pouco e recompor forças para tentar entender tudo o que vinha passando até aquele momento! Ela para em frente ao espelho tira a toalha para olhar atentamente se não tinha nenhuma marca ou ferimento em seu corpo! Vira de costas para olhar e fica por uns instantes pasma com tão bela silueta e recorda do que arrepio que sentiu com o toque da camareira.


Rindo vergonhosamente entrou embaixo do lençol, sentindo a maciez do mesmo tocando sua pele nua. Não sentiu excitação ao toque da camareira, apenas uma estranha sensação pelo modo como tudo se deu!


Exausta, fechou os olhos, lembrou-se do lindo rapaz com a jaqueta no beco e rapidamente dormiu!


(......)3


A tarde está quente! Apesar da chuva forte lá fora que refresca o ambiente, o quarto está quente! Andrea dorme, mas está agitada e começa a se retorcer na cama. Ela tira de sobre seu corpo o lençol que antes a cobria tentando refrescar o corpo quente. Ela vira de um lado para outro sem parar. De repente, algo estranho acontece! Sente que está sendo observada e fica com medo, mas resolve fingir que não reparou estar sendo observada. Seu corpo mesmo quente soa frio! Sente uma mão tocar levemente seus pés, o corpo se agita e sente vontade de gritar, mas poderia ser pior! Quem a estaria tocando?! A mão que toca seus pés parecem mãos firmes, porém delicadas, sutis. Os dedos dos seus pés se contraem levemente e a mão continua a acariciá-la agora com mais força. Um arrepio toma conta de seu corpo quando sente que além das mãos, alguém toca seus pés com a boca e a beija sutilmente. Ela treme de medo e de excitação! As mãos então sobem pelas suas pernas e tomam conta de suas coxas que estão ardendo em brasa.


Ela precisava conter aquela caricia, mas não sabia como fazê-lo! Quem a estava tocando? Como entrou no quarto que havia trancado a porta? Um forte estrondo a assusta e ela dá um salto da cama! Tremula e assustada percebe que não há ninguém no quarto. Ela estava sonhando quando fora acordada por algum barulho. A janela do quarto bate forte com o vento, e ela percebe que aquilo a tinha acordado. Sentiu um forte alivio por não estar sendo tocada e por tudo aquilo se tratar apenas de um sonho.


Trancou a janela do quarto e viu que já estava escurecendo. Ela dormira a tarde toda e a noite se aproximava. Deitou-se novamente, atônita olhou para o teto do quarto relembrando aquele estranho sonho que parecia ser realidade! Ela poderia jurar que fora tocada por alguém.


Quis se levantar para sair e procurar algum lugar para comer algo! Estava faminta! Mas lembrou de que tinha que aguardar a camareira com as roupas que fora comprar para ela.

(......)4

Deitada ainda e perturbada com aquele estranho sonho que teve Andrea sentiu que aquele calor a sufocava. Mas não era apenas um calor do clima! Seu corpo realmente estava quente! Estaria ela com febre depois de toda aquela chuva?! Poderia ser. Levemente deixou que sua mão que até agora estava repousada sobre a barriga deslizasse um pouco por entre suas pernas. Ela não se lembrava se já tinha se tocado daquela forma antes, mas sentiu um forte desejo de se masturbar! Ela estava úmida! Quente e desejosa de ser saciada! O que estaria acontecendo com ela? Por que toda aquela excitação?! Deveria ser o mormaço que veio após a chuva que a fez ficar assim! Levantou-se ligou o chuveiro no máximo de água que podia para que a água saísse mais fria! Tomou um bom banho frio e refrescante.


Ligou a pequena TV que havia no quarto, e assistiu ao noticiário que dizia da satisfação dos políticos pelo sucesso da nova moeda! E a alegria do povo de Tocantins por conseguir finalmente a tão desejada emancipação também recentemente conquistada!


_Meu Deus! Exclamou ela.


_Tantas mudanças! Quanto tempo perdeu? E porque estava assim?!


Eram tantas perguntas que sua cabeça doía.


Nova moeda? E que moeda era antes? Essa perda de memória a estava enlouquecendo!


Seus pensamentos são interrompidos ao ouvir alguém bater à porta.


_Quem é? Perguntou ela!


_Isaura. Trouxe tua encomenda moça!


Ela abriu a porta e se deparou com a camareira agora vestida sem o uniforme! Pode perceber que se tratava de uma bela mulher na faixa dos seus 35 anos! Ela sem o uniforme parecia bem mais cuidada.


Assim que abriu a porta a camareira entrou no quarto e encostou a porta dizendo:


_Não quero que ninguém me veja aqui! Posso perder o emprego se for pega!


_Mas como você conseguiu subir sem ser vista? Perguntou Andrea, curiosa.


_Quem está na recepção é o Beto! Ele é gente boa! Mas se mais alguém me vir estou perdida. O povo é maldoso, e só quer uma oportunidade pra prejudicar a gente. Não é mesmo?! Explicou Isaura!


Andrea mesmo sem saber exatamente do que se tratava, concordou com a cabeça, enquanto abria o pacote que Isaura lhe trouxera. Enquanto abria o pacote, lembrou do sangue em suas calças. Será que ela teria feito maldade a alguém?! Aquelas perguntas a angustiavam, mas não podia se abrir com ninguém, já que não sabia ao certo quem era, onde estava, e porque não conseguia se lembrar de nada!


Ao abrir o pacote de papel pode ver que a camareira lhe trouxera um vestido de alça média que iria um pouco abaixo do joelho, com tons discretos de rosa e salmão se dividindo em listras e uma linda sandália branca.


A camareira olhando fixa para Andrea disse:


_Você pediu que lhe trouxesse algo que eu usasse, então comprei esse modelo que achei uma graça! Pra dizer a verdade com o dinheiro que a senhora me deu comprei algo parecido para mim! Colocando Andrea de pé e postando o vestido em frente ao seu corpo. Para se assegurar que havia acertado no tamanho.


Andrea rindo disse:


_Sim, é lindo! Mas pensei em algo mais discreto!


_Deixe de bobeira menina! Você é linda e tem um lindo corpo! Essa roupa vai valorizar tua beleza! Vamos, experimente! Falou firme a camareira complementando:


_Trouxe também esta calcinha. Acho que serve!


Andrea deixou cair à toalha um pouco envergonhada, pois a camareira a olhava fixa. Vestiu a calcinha, e colocou o vestido que parecia ter sido feito sobre encomenda para ela. E foi para frente do espelho ver como estava.


Enquanto olhava no espelho, a camareira lhe envolveu pela cintura com um cinto de laço.


_Veja! Parece uma princesa! Exclamou a humilde mulher.


Andrea agradeceu ainda meio constrangida. Estava realmente bonita, mas tudo que ela não queria era chamar a atenção, já que não sabia quem poderia a estar procurando e aquele lindo vestido de listras era como um ponto de luz na escuridão! Todos iriam notá-la!


Enquanto vagava em seus pensamentos, Isaura, a camareira entregou a Andrea ainda uma pequena bolsa branca, combinando com a sandália e se despediu dizendo que não poderia se demorar ou o marido a iria esganá-la. E lhe entregando um pequeno papel disse ainda:


_Moça. Tome! Guarde na bolsa este numero! É de minha casa! Vejo que você está com problemas! Sou mulher simples, mas sou honesta e justa! E posso ver que você é uma boa menina que se meteu em apuros! Não precisa me dizer nada. Apenas ligue se precisar. Certo?


Andrea deu um forte abraço na camareira e agradeceu por tudo.


Isaura ainda abriu sua bolsa tirou um frasco de perfume de suave fragrância. Colocou uma gota em cada lado do pescoço de Andrea.


_Perfeito. Cuide-se! E saiu rapidamente sem deixar Andrea falar nada.


Andrea mais uma vez olhou para o espelho e estava deslumbrante. Seus cabelos de tão lisos que nem precisavam ser penteados. Apenas balançou levemente a cabeça passando as mãos neles e ajeitando-os. Ao balançar a cabeça, pode sentir o perfume era como um mantra. Suave e doce!


Nossa essa camareira tinha realmente bom gosto para uma mulher simples. Pensou ainda, “É! Talvez todas as mulheres tenham um dom para seduzir!” Tentou lembrar o nome da camareira e não conseguiu! Ficou assustada pensando estar com problemas seriíssimos de memória.


Sentou-se a cama, e enquanto colocava as sandálias lembrou-se!


_Isaura! Ufa! Pelo menos nem tudo está perdido. Disse ela para si mesmo rindo.


Enquanto apertava o feche da sandália, lembrou-se do sonho em que era beijada nos pés. Aquelas mãos tocando seus delicados pesinhos!


_Devo estar realmente perturbada, mas vou descobrir o que esta acontecendo. Custe o que custar.


Afirmou ela como quem desabafa um pouco!


Sentindo uma pontada de fome no estomago, pegou a bolsa. Endireitou o laço do vestido. Pegou o dinheiro e os documentos que estavam em cima da pequena cômoda e abriu a pequena bolsa branca para guardá-los. Iria dar uma volta antes que ficasse tarde para comer algo! E quem sabe comprar algo menos chamativo que aquele vestido.


Quando foi guardar o passaporte na bolsa, notou que de dentro dele caíra uma folha de papel no chão. Abaixou-se e pegou a folha curiosa. Já que não tinha visto anteriormente a mesma enquanto mexia no documento.


Era uma folha de caderno simples, escrita somente de um lado. Que tinha o seguinte dizer:


“Querida Euclécia...”

(......)5

AS CARTAS

_Veneza do Norte! Aí vamos nós!

Grita Paulo erguendo o copo e propondo mais um brinde!

Paulo estava radiante, eufórico! Realmente muito feliz! E comemorava junto com os amigos o visto que havia conseguido naquela manhã junto ao Consulado Holandês.

_Onde está o Marcus que ainda não chegou?! Perguntava ele a Galego. Um rapaz claro, bonito, de cabeleira loira e vistosa, e com um lindo par de olhos azuis como água cristalina.

Galego sem saber, responde:

_Olha Paulo, não confio nesse cara! Ele nunca está por perto, e vive se atrasando!

_Deixe de tolice Galego! Pois confio mais em Marcus do que em todos vocês juntos! Certo?! Respondeu ele rispidamente!

_Opa Paulinho! Também não é assim! Então quer dizer que você não confia em mim?! Pergunta Daniella, uma loira de parar o trânsito, e com sotaque sulense.

_É claro que eu confio em todos vocês princesa! Diz Paulo sorrindo. E continua:

_Se não confiasse em vocês, não estaríamos aqui agora! Mas o que eu quero, é que vocês dêem um crédito ao Marcus. Eu o conheço há muitos anos e sei que ele é o melhor em conhecimento de obras de arte!

_Mas Galego tem razão Paulinho! Ele nunca está presente em nossas reuniões! Afirma Daniella, séria e segurando um copo de vinho branco.

Paulo com ar sereno tranqüiliza os amigos:

_Relaxa mulher! Eu sei o que estou fazendo! Marcus está apenas um pouco ansioso por causa do avião! E deve estar procurando diversão aqui no “Bico do Papagaio” (apelido que era dado à região de “Esperantina”, que fica entre os rios Araguaia e Tocantins). Apenas procurando diversão! Se é que você me entende loira! Diz ele com uma gostosa risada!

Na mesa estavam Paulo, Galego, Daniella, e Genaro. Paulo que é sempre muito observador levanta-se dizendo que irá buscar outra cerveja, enquanto o pequeno grupo fica conversando.

Ele se aproxima do balcão do pequeno bar para pegar a cerveja com balconista, Um mulato forte e boa praça, com quem já tem alguma amizade.

_Ei Zé, mais duas cervejas pra gente! Pedi-o ao mulato enquanto pergunta:

_Me diz uma coisa Zé! Porque chamam esse projeto de cidade de Esperantina, se na verdade o município se chama São Sebastião de Tocantins? Indaga-o.

O mulato de olhos negros, sem titubear responde:

_É que assim como “Tocantins” conseguiu se emancipar e se tornar um estado independente de Goiás, Se Deus quiser, em pouco tempo a gente aqui vai ser independente também seu Paulo. A região está crescendo muito rápido graças à caça, a pesca e por ser muito próspera para a agricultura! Tem gente vinda de todo canto pra cá. E quem sabe eu possa até ser prefeito dela um dia né? Fala o jovem rindo.

Paulo sorri, e pega as cervejas. Mas agora com o olho no canto do balcão que está próximo a porta! Ele leva a cerveja na mesa e volta com o pretexto de lavar os copos que eram usados. Entrega os copos ao mulato pedindo que o mesmo passe uma água neles. E discretamente observa um homem mal encarado que usa um capote largo e está parado a beira do balcão com um copo de cachaça nas mãos sem dar um trago sequer.

_Vocês do sul tem isso né seu Paulo?! Copos sempre limpos! Aqui não tem dessas frescuras não! Diz o mulato rindo e lavando os copos!

_É Zé! A gente do sul é cheio de história! Responde Paulo! Que como quem não quer nada, e beliscando uma pequena fatia de mortadela que estava sobre o balcão, fala para o balconista:

_Zé! Não olhe agora! Mas você reparou aquele homem parado à beira do balcão? Você o conhece?

_Eita seu Paulo! Fala o mulato com ar assustado e continua:

_Deixe esse homem quieto! Ele não é “fror que se chere”! E o senhor não vai querer se meter com ele não! Ele é capataz da “Fazenda dos Queiróz”, e dizem as más línguas que também faz uns serviçinhos sujos, se é que o senhor me entende!

_Serviçinhos sujos? Como assim?

O rapaz se debruçando sobre o balcão como quem vai entregar os copos sussurra:

_É matador de aluguel! Muito comum aqui na região de matas seu Paulo! Muito comum!

Paulo pega os copos, volta para a mesa, mas fica de olho naquele estranho homem que lhe despertará curiosidade.

Genaro que até então estava calado, e talhando seu nome na mesa de madeira, com um pequeno canivete suíço. Ao notar que Paulo estava um pouco tenso por causa do estranho homem diz:

_Beba tua cerveja e fique sossegado Paulo! Se o grandão ali pensar em olhar pra esse lado, vai para a caixa prego! Mostrando discretamente estar armado.

Galego e Dani, que trocavam algumas carícias, ao ouvirem o comentário de Genaro, olham ao redor para entender o que está acontecendo.

Paulo ainda com a tranqüilidade de um “Lorde” diz ao amigo:

_Não faça bobagens italiano! Guarde isso e vamos beber, que a gente ganhar mais! Ali, não é problema nosso!

_Mas se vier mexer com a gente, será problema nosso maninho! Retruca Genaro.

Daniella passando a mão nos cabelos, e como quem quer mudar de assunto. Olha para Paulo, e curiosa diz:

_Deixe o “Cosa Nostra” na dele Paulinho! Diz ela sorrindo e olhando para o italiano, que apenas levanta o olhar ao ouvir o apelido carinhoso que Dani deu a ele! Então olha para Paulo e continua:

_E sobre o nosso outro problema, o que faremos?

Paulo agora um pouco mais sério olha para a linda mulher e responde:

_Aquele é um problema “MEU” e não “NOSSO”! E desse problema cuido eu! Certo?

Galego ao ouvir a dura resposta intervém:

_Ei pessoas! Vamos abaixar os ânimos né?!

_É que como já disse Galego, esse é um problema meu! E irei resolver! Relaxem! Diz Paulo ao amigo!

Enquanto conversavam, Genaro discretamente observa que o estranho homem do balcão havia sido chamado para fora por outro homem, não menos mal encarado. Paulo que tinha se distraído com o assunto na mesa, quando senti a ausência do homem, corre os olhos pelo bar, como quem procura o mesmo!

O italiano ainda com o canivete na mão, mas agora, como quem limpa as unhas na ponta do canivete, sem tirar os olhos do que fazia tranqüiliza Paulo que ainda procurava o homem!

_O grandão foi pra fora amigo! Ele e mais um!

Nesse momento, Zé o “mulato do bar” chama Paulo segurando um pequeno telefone e diz:

_Seu Paulo! Telefone! É “pro sinhor”

Paulo levanta-se e vai em direção ao balcão atender, e ainda consegui ver o vulto dos homens que somem adiante pelo vidro do bar!

_Pronto! Paulo!

_Olá Paulo! É Marcus! Desculpe o atraso, daqui a pouco estarei por aí! Caí no sono e perdi a hora! Desculpe!

_Sei esse sono! Aposto que está na casa das “Primas” né moleque? Diz ele com um fio de gargalhada na garganta!

Marcus sem discutir apenas ri e diz:

_Daqui a pouco estou chegando! Abraços!

_Abraços moleque! Responde Paulo.

Paulo então olha para o mulato e afirma:

_Ei nego! Vou fazer uma ligação aqui! Okay?

_Fique a vontade seu Paulo! Fique a vontade! Responde Zé!

Nesse instante entra no bar Andrea! Cheirosa, e linda como uma boneca de porcelana! Ela para ao lado que Paulo que estava meio de costas para a porta! Ela olha para o balconista e com simplicidade pergunta ao mulato o que ele tem pra comer!

Paulo que até então estava de costas, iniciando seu telefonema, se vira para ela! E a olha de cima a baixo. Então coloca o telefone no gancho e pedi ao mulato uma pequena porção daquela mortadela cortada num pratinho.

Zé, o mulato! De imediato pega a mortadela pra cortar enquanto responde a linda mulher em seu vestido de listras:

_Olha dona! Tenho apenas aperitivos! Mas posso fazer um sanduíche pra senhora!

_Por favor, faça um bem grande pra mim! Com tudo que tem direito. Por favor.

_É pra já senhora! Só um instante!

Enquanto aguardam seus pedidos, e observam a pratica do mulato. Paulo sem olhar para a Andrea pergunta:

_Faminta?

Ela sem jeito, e séria a princípio, pensa em não responder, mas receosa por ser grosseira com aquele estranho homem diz:

_Saco vazio não para em pé não é verdade? Com um leve sorriso de simpatia!

Ele então pegando a pequena porção de mortadela, enquanto tempera com um pouco mais de orégano e ainda sem olhar pra ela, com olhar fixo no pequeno prato diz:

_É muita coragem tua vir aqui!

Ela um pouco mais assustada agora com a afirmação do homem, mas com um instinto que desconhece nela própria. Mantém firmeza na resposta:

_Apesar do lugar! Sei me cuidar! E olhando para o mulato pergunta:

_Você tem presunto também?

_Tenho sim senhora! Responde Zé a bela menina! E continua:

_Vou fazer um “X-TUDO” literalmente dona! Se quizer se sentar enquanto preparo! Quer beber algo?

Então Paulo interrompe:

_Faça um suco de abacaxi com menta para ela “Zé”!

Ela ainda mais assustada, já que o estranho homem acertou o que ela iria pedir, agradece a Paulo, e pergunta ao rapaz que prepara o lanche quanto é?

Antes que o mulato respondesse, Paulo afirma:

_Coloque na minha conta “Nego”!

Ela tenta resistir para evitar uma aproximação:

_Não! Cobre aqui! E faz menção de colocar o dinheiro sobre o balcão quando é interrompida por Paulo que segura sua mão e olhando sério para ela diz:

_Eu insisto! Por favor, aceite!

Ela olha para aquele homem a olhando com olhar penetrante. E desconcertada por estar sendo segura na mão, sutilmente se desvencilha da mão de Paulo e mais uma vez agradece!

_Obrigada, novamente! Mas não é preciso!

Enquanto isso o mulato olha o lanche que está na chapa, enquanto prepara o suco como quem nem percebe a conversa de ambos.

Paulo então tira os olhos dela e olhando para o mulato que faz o suco um pouco distante de onde estavam, pergunta:

_E as cartas?

Ela agora sem entender mais nada, pois não tem certeza de que o homem está falando com ela. Apesar de não ter mais ninguém por perto, fica temerosa! Pois se recorda da carta encontrada poucos instantes antes no passaporte. Mas acha que ele pode ter falado ao mulato. E finge não ter ouvido, enquanto pega o lanche sobre o balcão e olha para ver se tem alguma mesa livre.

Nesse momento, Paulo mais uma vez segura sua mão e com voz firme diz:

_Estou falando com você, Euclécia Alfandary!

Ela então fica pálida! Senti as pernas estremecerem e senti que vai desmaiar! Pois o homem falara o nome da carta que encontrou no passaporte! "Euclécia". Com certeza ele a conhecia, e isso podia ser perigoso, mas ela não tinha certeza de nada!

Enquanto passam mil coisas na cabeça dela, Daniella chega por trás e com tom irônico e sorrindo diz:

_Pelo visto você estava certo Paulinho! O problema será resolvido!

Andrea olha para a mesa de onde tinha vindo aquela garota e repara dois homens observando a tudo, com um sorriso no canto da boca! Então ela pensa: " E agora, o que eu faço!? "

(......)6

Andrea sentindo um frio correr pela espinha achou que poderia estar realmente em perigo agora. Mas não sabia o que fazer! Por uma fração de segundos olhando para ambos, ali parada, atônita, e sem saber o que dizer ou como agir naquela situação que agora a preocupava! Aquele nome! “Euclécia Alfandary!” Que nome era aquele? Aquela garota ali dizendo que ela era um problema! Pessoas que ela não se lembrava de ter visto antes ali na sua frente, e perguntando pelas cartas.

_Aqui está seu lanche dona! Diz o pacato homem do bar, fingindo não perceber nada que estava se passando! Discrição era o seu forte naquela cidade sem leis.

Ela agradece! E sem pegar o lanche, pergunta se tem ali um banheiro que possa usar! Com um olhar de quem pedi socorro antes da informação em si. Antes mesmo que o mulato possa responder, Paulo se precipita em dizer:

_Daniella lhe mostrará onde fica!

Daniella, a estonteante loira, olha para Andrea com um olhar um tanto quanto inexplicável. Havia um sorriso naqueles olhos, misturado com um ar de cautela. Ao mesmo tempo em que, de sobrancelhas altas olhava a direção do banheiro e dizia:

_É por aqui linda! Eu também preciso retocar a maquiagem! Os senhores me dêem licença. Diz ela com um pequeno sorriso no canto da boca!

Andrea vai à frente. E quando vai ser seguida por Dani, Paulo sutilmente quase entrando na frente de Dani lhe dá instruções quase que em sussurros!

_Fique de olhos bem abertos com ela “loirão”! Mas vá com calma! Não queremos machucá-la! Certo?

Daniella agora com um ar irresistível, lábios carnudos, decote aberto, trajando uma jaqueta de couro marrom e com cabelos soltos e chamativos, de maneira austera, se aproximando do rosto de Paulo, abre bem os seus lindos olhos verdes, para e pergunta:

_Assim está bom pra você! E logo em seguida caminha atrás de Andrea! Enquanto caminha olha para trás onde está Paulo que a tudo observa e completa:

_Não vou mais machucar a “tua namoradinha”. Rindo delicadamente!

Paulo então olha para a mesa de onde é observado por Galego e Genaro e com um sorriso acena cabeça discretamente em sinal de afirmativo.

Ao entrarem no banheiro. Dani apanha a delicada menina de vestido listrado e a empurra contra a parede com bastante grosseria e rispidez. Olhando dentro dos olhos da frágil morena e a segurando pelos braços diz:

_Preste bem atenção vadia sem-vergonha! Não quero nenhuma gracinha! Ou então dessa vez não vou apenas machucar essa linda boquinha de princesa! E sim, vou quebrar cada osso do teu delicioso corpinho!

Ao dizer isso e pressionando o corpo contra o corpo de Andrea, que está acuada na parede, passa rapidamente a língua, do queixo à boca de Andrea, que de olhos não menos arregalados, mas estes sim de medo, tenta virar o rosto e é segura pela mão da loira que coloca uma das pernas entre as pernas de Andrea e pergunta:

_Está armada vadia?!

_Armada?! Eu?! Vocês devem estar me confundindo com alguém! Diz Andrea assustada! E com olhos ainda arregalados!

_Deixe seu teatro barato para o tonto do Paulinho boneca! A mim você não engana! Deixe-me ver! Encoste! E calada!

Ela então coloca as mãos sobre os seios de Andrea e desce vagarosamente até seu ventre, olhando-a com ar malicioso. Depois ela vira Andrea de cara para a parede e ainda mais colada no corpo dela começa a revistar a delicada morena que faz menção de chorar, num misto de medo e incerteza, e fica desesperada por tudo que lhe vinha acontecendo. Aquela mulher tão linda e feminina não parecia sapatão ou coisa assim. Mas a lambida que lhe dera. O corpo pressionado contra o dela. As mãos lhe revistando, mais com toques de maldade do que de busca. E com aquele olhar. Era tudo muito confuso. Daniella coloca a mão sob o lindo vestido de Andrea como quem procura uma arma. E alisa as pernas de Andrea no pretexto de revistá-la, enquanto maliciosamente se aproveita daquela situação! Ao mesmo tempo em que faz a revista, olha atentamente para o local onde tudo está acontecendo, e para ter certeza de que estão a sós ali. Andrea sentiu um calor a invadir! Aquela situação apesar de constrangedora e visivelmente perigosa por não saber de quem se tratava ali na sua frente, era inegavelmente excitante.

Como não encontra nada. Vira Andrea novamente, dá um sorriso amigo e diz:

_Vamos! Recomponha-se! Não queremos chamar a atenção, certo? Lave o rosto e se comporte, ou então já sabe!

Enquanto diz isso, olha dentro da pequena bolsa que Andrea carregava consigo. Retira o pacote de dinheiro, e os documentos. Joga a bolsa sobre a pedra da pia e diz:

_Isso agora fica comigo! Colocando-os dentro da jaqueta de couro que veste!

E caminhando em direção aos boxes do pequeno banheiro, olha debaixo das portas de madeira, só agora se dando conta de que não sabe se tem alguém ali dentro que pudesse ter escutado toda a conversa. Como não encontra ninguém, volta a olhar para Andrea que lava o rosto e se pergunta em silêncio: “Então foi ela que machucou minha boca! Mas por quê? Quem são essas pessoas? O que querem comigo? Ah meus Deus! Porque não me recordo de nada?!”

A loira impaciente diz:

_Pronto! Está linda! Vamos logo com isso! Não temos a noite toda para ficar aqui! E não iremos a nenhum desfile de beleza boneca!

Andrea levanta a cabeça! Passa a mão no rosto como quem tira o excesso d’água, e olha para Daniella pelo espelho com ar de quem não está gostando de ser tratada dessa forma! Então a linda loira completa:

_Assim com esse olhar você me excita! E ri sedutoramente passando a língua nos dentes superiores da ponta ao meio.

Andrea então seca o rosto numa toalha de papel estendida por Daniella, e juntas então saem do banheiro e caminham em direção à mesa onde se encontram os três rapazes.

Paulo mostra a cadeira onde Andrea deve se sentar ao lado dele e entre Dani! E mostra para ela o lanche e o suco à mesa!

_Coma meu anjo! Você tem de ficar forte porque temos muito que conversar!

Andrea pega o lanche faminta, enquanto diz a Paulo:

_Eu não sei o que vocês querem comigo! Mas poderemos até conversar contanto que você mantenha essa pervertida longe de mim!

Dani apenas ri, enquanto Paulo em gostosa gargalhada olha para a linda loira que morde o lábio inferior com ar provocativo, e um sorriso sacana!

_Ela molestou você de novo amor?! Pergunta ele sorrindo, enquanto Galego puxa Daniella e lhe dá um bom beijo observado por Andrea que entre mordida e outra, olha para todos sem nada entender!

Daniella se desvencilha do beijo e joga na mesa o pequeno pacote e os documentos da morena que a tudo observa enquanto devora o lanche! Paulo pega o pacote! Abre! Confere o que há dentro! Junta os documentos dentro do pacote! E devolve para Andrea enquanto diz:

_Tome! Guarde!

Daniella cautelosa pergunta como quem sugere:

_Vai devolver os documentos também Paulinho?

Se eu fosse você guardaria os documentos! Sem eles, ela não pode ir muito longe!

Ele passando a mão no cabelo de Andrea responde:

_Ela não ira a lugar nenhum agora, loira! Não é mesmo amor?

Andrea com a mão afasta a mão do rapaz que lhe acariciava os cabelos, e olha para ele com a testa franzida! Indagando enquanto limpa a boca com um guardanapo de papel:

_O que vocês querem comigo?

Galego muito calmo diz:

_Ou ela é muito sonsa mesmo, ou jogar ela da escada não fez bem para a cabecinha dela meu anjo! Diz ele enquanto puxa Dani para mais perto!

_Ela está fingindo! Fala a perversa e atraente loira com um tom de voz um pouco mais alto olhando para Galego. E continua:

_Apesar de por um instante no banheiro eu também achar que realmente ela está desmemoriada! Já que parecia nem estar gostando né amor? Diz ela agora olhando para Andrea! E segue justificando:

_E tem mais! Eu não a empurrei da escada! Ela caiu na briga! Não queria machucar a bonequinha do Paulinho!

Paulo olha para o casal e conclui:

_Eu sei disso loira! Relaxe! Mas não queremos mais brigas aqui certo? Somos uma equipe! E assim iremos permanecer! Agora quanto a estar fingindo, não acredito que esteja fingindo não! No balcão ela pareceu nem me conhecer. Como se eu fosse um total estranho a ela!

Afirma ele enquanto enamora a pequena morena que bebe deliciosamente o suco feito pelo mulato, momentos antes.

Ela coloca o copo em cima da mesa. Ajeita-se na cadeira. Olha para Paulo que não desgruda os olhos dela e diz:

_Bom! Pelo visto muita coisa começa a se explicar aqui, como por exemplo, eu não estar me recordando de vocês, do local, ou de nada ao meu redor! Deve ter sido a pancada da queda da escada como vocês disseram. Mas é claro que vocês me conhecem. Até o suco de abacaxi com hortelã você sabe que eu gosto! Não é mesmo Paulo? E após uma pequena pausa frisa:

_Esse é seu nome não é? Paulinho! Diz ela virando a cabeça e olhando firme para Daniella!

_Baaah! Paulinho! Vejo que sua “namoradinha” perdeu a memória, mas não perdeu a arrogância. “Paulinho”! Diz Daniella, repetindo o apelido com ar irônico e olhando provocante para Andrea enquanto coloca a mão sobre suas pernas por baixo da mesa!

Andrea tira a mão da loira de sobre suas pernas. Olha para Paulo e pedi:

_Mantenha ela longe de mim ou não respondo por meus atos! Certo? E me diga já que “somos uma equipe”. O que está acontecendo?!

Enquanto fala isso, percebe que Isaura a camareira passa pela mesa, e a cumprimenta dizendo:

_Eu não disse que com esse vestido você faria sucesso menina! Vejo que já fez amigos aqui! Diz a camareira que a havia ajudado a se arrumar no hotel um pouco antes. E um pouco apressada se afasta da mesa, já que um homem lhe chamava.

Enquanto Isaura falava, todos sorriam, e Dani mais cautelosa, faz menção de ir atrás da mulher para ver quem era aquela figura. Mas é impedida por Paulo que diz:

_Deixe Loira!

E olha para Andrea ao afirmar e perguntar!

_Faço as dela, minhas palavras! “Pelo visto já fez amigos aqui! Quem é?”

_Não vê que é a vendedora que me vendeu essa roupa?! Afirma ela sem titubear!

Ele ficou em silêncio um pouco como quem avalia a resposta e continua:

_Bom, vamos ao que interessa. Você está com as cartas Andrea? Fala Paulo com voz firme! E olhando dentro dos olhos da linda morena, para saber se estava realmente mentindo, ou se realmente não se recordara de nada!

_Mas se nem meu nome eu lembrava direito. Vou saber de que cartas você está falando! Olha! Eu preciso...

Quando vai falar é interrompida por Genaro, que até agora estava calado. Mas agora se colocava de pé e com bom sotaque italiano diz:

_Bom! Penso che possiamo continuare la nostra conversazione altrove! E olhando para Paulo continua:

_Teus piccoli amici sono tornati! Diz ele olhando agora para fora do bar.

Todos olham para fora e podem ver o homem mal encarado que até então estava no balcão e que despertou a atenção de Paulo!

Andrea quando viu o homem, ficou apavorada! Pois, a única cena de que se recordava até então, era aquele caminhão de que tal homem descia. Era o caminhão de cabine vermelha de que ela havia escapado na madrugada anterior quando estava parado no posto! E ela sabia consigo, que aquele homem com aparência deplorável não parecia nada hospitaleiro, ou alguém com quem ela pudesse estar mais segura do que o pequeno grupo que a cercava no momento!

O grupo apesar da loira hostil, pelo pouco que ela tinha ouvido até o momento era uma equipe. E ela fazia parte dessa equipe!

Paulo então se levantou! E ordenou a Genaro que ficasse de olho na porta. Com a cabeça gesticulou a todos para irem para o fundo do bar onde havia uma pequena porta de saída. Olhou para “Zé” o mulato do bar, e fez sinal de que estava usando aquela saída e de que depois voltaria!

Genaro saindo da mesa parou no balcão próximo da porta e fingindo estar bêbado, cambaleando, atrapalhou a entrada dos dois homens que haviam descido do caminhão e tentavam entrar no bar enquanto o mulato colocava Genaro para fora e juntos obstruíam a entrada daqueles homens mal encarados!

_E não volte mais aqui! Diz o mulato empurrando o italiano para fora enquanto bate palmas com as mãos, como quem se limpa. E é observado de perto por aqueles estranhos sujeitos!

Um deles está olhando atento para o mulato que empurra Genaro, enquanto o outro olha para dentro como quem procura alguém! Enquanto o pequeno grupo some pelos fundos do bar, mas o homem percebe que a porta dos fundos está se fechando, e empurra o dono do bar tentando entrar rapidamente sem ter muito êxito.

_Ali Tião! Estão indo “pra li” pelos fundos. Diz ele. Entrando, e indo em direção aos fundos do bar, atrás do grupo enquanto empurra algumas mesas que estão a sua frente para tentar ir mais rápido.

Enquanto se passa toda essa confusão, Paulo, Andrea, Dani e Galego saem rapidamente pelos fundos e entrando no carro que estava parado na rua ao lado seguem em disparada! O outro homem pega um rifle que portava e dá dois disparos em direção ao carro que some no meio da poeira feita pelos pneus.

Um deles então! Segura o mulato mostrando uma foto de Andrea e pergunta!

_Essa menina estava com eles?

O mulato se soltando da rispidez do homem diz não ter visto nada e reclama a fuga do pequeno grupo sem sequer pagar a conta!

O outro homem que havia tentado correr atrás deles dentro do bar, se recorda de que o italiano estava na mesa com o grupo, e quando vai procurá-lo é tarde!

Genaro já havia subido em sua moto e igualmente sumido pela pequena estrada empoeirada.

Os homens se entreolham enquanto o mais velho diz:

_Vamos ligue essa porcaria velha. Vamos atrás deles!

E ambos saem rapidamente sem chances de alcançar o potente carro de Paulo naquele velho caminhão.

(......)7

Enquanto isso, Marcus havia desistido!

Após sair do consulado, ele passou a tarde toda procurando aquela mulher que não lhe saía da cabeça, e que tinha visto suja e frágil no beco. “Onde estaria ela?”; “como encontrá-la?”

Nem mesmo ele entendia porque aquela criatura despertara tamanho fascínio nele. Logo ele que sempre foi tão bom com as mulheres. Podia ter a mulher que queria e quando quisesse. Mas estava ali, vendido àquelas lembranças.

Marcus tinha um porte atlético! Era alto, forte! Com braços grandes e musculosos! Andava sempre de cabeça raspada e com um simpático cavanhaque que atraía as mulheres para si! Não tinha muita habilidade com as palavras, mas sua simpatia, vinha do charme que usava para atraí-las! Ele costumava dizer que usava a mesma arma que as mulheres! “A arte da sedução”.

E geralmente o seu ar tranqüilo e cara de bom moço transmitiam confiança.

“Porque aquela mulher teria fugido?” Eram pensamentos que o consumia! E ele já teve mulheres tão lindas! “Por que aquela pobre criatura maltrapilha lhe encantara tanto?”

Talvez o fato de a pobre mulher parecer apavorada ou maltratada, tivesse despertado nele uma compaixão que não tivera outrora com ninguém!

A cidade era pequena e nem sinal dela! Talvez ela tivesse ido embora já! Partido! Ou então estar morta em algum lugar, já que parecia estar fugindo de alguém!

No momento em que pensou que ela pudesse estar morta, sentiu um calafrio de pânico! Não era possível que Deus faria uma coisa dessas com ele! Apresentar-lhe tal criatura, e depois sumir na névoa para nunca mais ser vista!

Ele tinha de achá-la! Mas deixaria isso para o acaso, ou outro momento em que o destino quisesse! Não poderia se demorar mais e uma vez que estava novamente atrasado para encontrar Paulo e os amigos no “bar do Zé”, como ele chamava! Tinha de dar atenção a outras prioridades e esquecer a bela mulher do beco naquele instante!

Como o atraso já era grande para o encontro, desistiu por hora dela, e foi ter com os amigos no bar, sem saber que eles não estavam mais lá! E estavam seguindo para a casa de Paulo.

Enquanto isso numa rua paralela, bem próximo de onde estava Marcus. O pequeno grupo, Paulo, Galego, Daniella e Andrea, viam Genaro passar com sua moto pelo jeep “Grand Cherokee” prata, em que eles estavam a toda velocidade.

Genaro passa apressado e vai bem adiante como quem conhece o destino para onde tem de ir.

Eles olham para o italiano passando com o comentário aliviado de Galego:

_Ele está bem! Tudo certo! O italiano é ligeiro! E diz isso olhando para o banco de trás onde estão Dani, e Andrea, como quem quer tranqüilizar a linda loira que até então demonstrava preocupação pelo amigo.

Ao passar o italiano, Daniella olha para Andrea que está ao seu lado e afirma:

_Você parecia apavorada ao ver aqueles homens! Tem algo a nos dizer?

Andrea ainda sem estar certa do que estava acontecendo, responde:

_Não sei direito! Apenas recordo de ter saído daquele caminhão essa madrugada, num momento de distração deles! Para dizer a verdade, apenas lembro-me do caminhão, mas não deles!

Paulo tranqüiliza dizendo estar tudo bem agora e completa:

_Calma Déia! Teremos muito tempo para conversar! E você poderá se recordar de tudo! Inclusive de onde estão “as cartas”.

Daniella estendendo a mão e alisando de leve o cabelo da fascinante morena, que se desvencilha novamente dela diz:

_É boneca! Teremos "muuuuito" tempo para recordar! Diz ela com ar sarcástico e quase comendo Andrea com os olhos que qualquer um adoraria ter por perto!

_Chega disso loira! Não é hora para brincadeiras! Fala Paulo em tom seco e firme, olhando pelo retrovisor e assistindo a pressão de Dani sobre Andrea.

O carro acabara de parar no semáforo. Nesse instante, Galego em interjeição de quem pedi silêncio, e olhando para o retrovisor lateral discretamente afirma ao grupo:

_Shiiiiii. Temos visita! E dizendo isso, disfarça como quem não está preocupado!

Ao lado deles para uma viatura da policia com três policiais. Todos permanecem calmos como quem nada devem.

“Aquele era o momento!” Pensa Andrea! E a interjeição de Galego faz ela pensar que o grupo não é boa coisa! "Aquele era o momento!"

Sem ter certeza ainda de quem era aquele grupo que estava com ela, e o que queriam. Andrea, num ímpeto instintivo, abre a porta do carro para o espanto de todos, e desci, enquanto é observada pelos policiais e como quem se despedi de um grupo de amigos diz a todos:

_Pra mim está bom aqui! Tenho de encontrar meu irmão ainda, e ele está aqui perto! Inventado tal história para não despertar a atenção dos policiais que estavam na viatura ao lado.

E agora com ar malicioso e um sorriso no canto da boca. Passa a língua nos dentes superiores, do canto ao meio. Tal qual tinha Daniella feito pra ela anteriormente. E olhando para Dani, que está pasma, com tal atitude repentina e inesperada de Andrea, e ao mesmo tempo sem poder fazer nada. Despediu-se da loira:

_Tchau boneca! A gente se vê! Beijos! Olha para os rapazes, bate no braço de Galego que está na janela e se vira para ela, quando é surpreendido com um beijo de estalo na boca!

Ela olha novamente para o banco de trás onde está a loira, que apenas observa com ar dissimulado e sorriso amarelo para não despertar a atenção dos policiais ali parados. Pisca o olho para Dani e diz:

_Tchau amores. A noite foi “MA-RA-VI-LHO-SA”! Beijos!

E sobe de salto para a calçada, como quem quer sair do meio da rua rapidamente!

Paulo se despede graçiosamente como quem achasse aquela atitude natura:

_Tchau “BB”! A gente se vê! Beijo!

O semáforo parece demorar uma vida toda para abrir, enquanto Andrea entra numa rua transversal e some em passos rápidos.

No carro, um silêncio “ensurdecedor”! Ninguém diz uma palavra sequer! Paulo olha para Dani pelo retrovisor, como quem fuzila um prisioneiro de guerra em campo de concentração! Não era possível que logo a Dani tivesse dado esse vacilo de deixar Andrea escapar assim tão fácil! O sinal abre e Paulo para não despertar suspeitas anda com o carro, mas um pouco mais lento agora! A viatura assim como de costume, anda a “Zero por hora”.

E aquele tempo precioso, esta os deixando, malucos.

A viatura entra numa rua a direita, e Paulo ainda para não despertar suspeitas segue adiante.

Nesse instante, Daniella que até então estava contida no banco de trás e se comia entre dentes tem um ataque de pelanca. Ela se debate no banco. Estica a cabeça em direção ao teto do carro como quem quer morder o estofamento do mesmo. Esmurra o banco da frente do jeep enquanto bate os pés frenéticamente no assoalho, e em grunhidos grita:

_Baaaaaaaaaaaaaaaaaaahh... .. que guria chaaaata! Eu mato ela! Eu juro que mato essa guria assim que colocar as mãos nela! Desgraçada! Vocês viram? aaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaa... !! E dando socos em Galego que tenta se defender e ri disfarçadamente continua:

_E você gostou do beijo daquela vadia, não é mesmo, canalha? Aaaaaaaa.. Eu vou matá-la! Deixa só eu pegar essa vadia! E sem pegar fôlego continua:

_E agora vocês ainda acreditam na perda de memória dela? Em Paulo, acredita? Aquela cachorra...

_Cale a boca Dani! Você não vai matar ninguém! Precisamos dela! E foi essa sua provocação que fez com que ela saísse assim! Você a assustou ao invés de conquistar a confiança dela! Diz Paulo interrompendo a crise de histeria da linda loira, e completa dizendo:

_Agora, mais do que nunca eu acredito que ela está desmemoriada mesmo!

Dani como quem procura no banco do carro, um melhor ângulo para olhar para Paulo sem ser pelo retrovisor. Observa o comentário calada, enquanto Galego diz:

_É verdade! Ela jamais se arriscaria assim na frente da polícia! Jamais!

Mais uma vez o carro é tomado por um silêncio, onde o piar de uma coruja é como um apito de trem de tão alto ruído que se torna!

Paulo e Galego então, não se contendo mais, caem em gostosa e larga risada quando Paulo diz:

_Essa é minha garota! Vocês têm de concordar comigo! Ela foi genial, não foi?!

Galego esboça nova risada e é socado por Dani que balança a cabeça com estupidez para arrumar o cabelo que estava em desordem graças à crise que teve!

(......)8

Andrea sabia que era uma questão de pouco tempo para eles voltarem. Então, precisava ser rápida e sair daquele lugar. Mas ela não sabia bem ao certo onde estava. Porém, precisava voltar ao hotel, que sequer imaginava onde ficava. Ela apenas tinha certeza de que não era muito distante de onde estava, levando em conta, o pequeno trajeto que haviam feito antes dela conseguir escapar.

Já estava ficando tarde e ficar na rua com aqueles homens do caminhão, e o grupo de Paulo atrás dela não era um bom negócio. Mas uma coisa a perturbava mais que tudo. Quem realmente era ela? Paulo olhava para ela com um ar de ternura! Não parecia má pessoa. E aquela loira asquerosa, se referia a ela como “namoradinha de Paulo”. Teriam eles tido alguma coisa realmente? Paulo não parecia o tipo de homem que ela viveria por muito tempo. Apesar de ser um rapaz bonito e atraente, Não despertava nela a atração que uma mulher tinha de sentir para se envolver.

Andrea andava com passos largos. Quase correndo. Enquanto caminhava apressada, divagava em seus pensamentos. Mas não deixava de pensar o quanto estava em perigo ali sozinha na rua.

No céu, algumas nuvens bloqueavam a imagem da lua, tornado a noite ainda mais sombria e fria. Não sabia definir se aquele frio era realmente do tempo ou da alma que estava congelada de medo e aflição.

As fracas luminárias da rua, a deixavam ainda mais apreensiva, pois não eram claras, e brilhantes como as da cidade grande, mas sim de um tom amarelado como aqueles filmes antigos. Fazendo com que aquele cenário parecesse uma cena de terror.

Mas na verdade, a história que ela estava vivendo naquele momento, era mais dramática e aterrorizante do que qualquer filme que pudesse ter visto antes. A perda de memória, os homens do caminhão, a loira repugnante que parecia querer come-la viva. Por um instante, ela achou que poderia estar enlouquecendo, ou será que assim como naquela tarde, não passava tudo de um sonho. Um estranho sonho. Ou melhor, um grande e demorado pesadelo!

Ao se aproximar de uma esquina, para atravessar a rua em direção ao hotel, e perdida nos seus pensamentos, nem se quer prestou atenção de olhar para os lados antes de atravessar. Ela com o impulso de chegar rapidamente, segue andando apressada, quando é acometida de grande susto. Ouviu uma freada de pneus muito próximo dela. Se fossem eles, correr não adiantaria. Ela então teria de enfrentar as conseqüências da audaciosa fuga de momentos antes. E pior! Encarar novamente, a temerosa loira que lhe causava ojeriza, e que havia deliciosamente provocado um pouco antes com o beijo em Galego.

Então, assustada olha para o lado a fim de identificar o carro que quase a atropelara! Para seu alivio, não era o jeep de Paulo, nem o temido caminhão. Mas era um Vectra branco. Que estava mais para marrom do que propriamente para branco, devido à grande quantidade de poeira que envolvia o carro a sua frente. Ela como quem descarrega toda adrenalina que estava vivendo nesse dia, bate com as mãos no capo do carro e brada em bom tom:

_Não olha por onde anda idiota? Dispara ela, revoltada.

No instante em que esbraveja com o distraído motorista, ela repara que aquele homem, parado, com cara de bobo olhando para ela, não lhe é totalmente estranho. Sim! Era ele! O homem que na madrugada anterior lhe tinha oferecido ajuda! Nem tudo estava perdido! Pensou ela!

Sem pensar duas vezes, e desesperada por sair daquele local. Ela vai em direção a porta de passageiros. Abre a porta, com rapidez entra no veículo e pedi para o rapaz sair daquele lugar rapidamente.

_Vamos! Ande! Diz ela para Marcus que está boquiaberto de espanto e surpresa.

Ele como quem está hipnotizado, continua parado olhando estupefato para aquela mulher que ele procurou o dia todo, e agora estava dentro do seu carro lhe dando uma ordem direta. “Não era possível! Como isso foi acontecer?!”

_Vamos! Acelere! Vamosss! Ou vai ficar a noite toda ai parado me olhando?! Diz ela, ansiosa em sair logo de onde estava.

Ele, sem balbuciar uma palavra ao menos, obedece a calado! E olhando pelo retrovisor, tentar ver o que pode estar afligindo aquela linda mulher. Que mesmo sentada ao seu lado, está com meio corpo virado para trás, como quem procura algo. Ele como quem está acostumado a tal situação, olha para o lado para observá-la melhor. Tranqüilo. E ainda sem nada dizer.

Enquanto dirige, olha para ela encantado. Porém agora, simplesmente linda. Perfeita! Aquele vestido, que deixavam aparecer um lindo par de coxas, aquele sutil perfume que envolvia o carro, e transbordava dela. Uma sandália branca empoeirada, tanto quanto seu carro. Realmente a cor branca não era a melhor opção para aquela cidade, pensou ele. E prestando mais atenção nas sandálias, pensou novamente. “Meu Deus! Ela é toda linda! Dos pés ao último fio de cabelo. Que dedos perfeitos ela tinha.” Era a mulher com que ele sempre sonhara. E não tinha nada haver com a garota que vira no beco, a não ser pelo olhar de medo e por estar fugindo de algo.

Mas porque aquela garota estava sempre como quem se esconde de alguém? Que segredos ela teria?

Marcus então resolve puxar assunto e descobrir quem era aquela linda e misteriosa garota! Mas antes que isso possa acontecer, ela percebe que está sendo observada e se volta para frente arrumando o vestido e tentando parecer normal e não tão apreensiva.

Marcus espera um pouco antes de falar algo, mas é ela quem começa falando:

_Desculpe-me se pareço preocupada. Não estou nos meus melhores momentos.

Ele continua calado, pois sabe que o silêncio é também interrogador em certas circunstâncias. E ela reparando um pouco mais nele, continua:

_Era você que me ofereceu a jaqueta essa madrugada certo? Você deve estar me achando uma maluca! Fala ela sem graça e um pouco tímida depois de ver o belo homem que estava ao seu lado.

Ele continua mudo, como quem não esta sequer ouvindo o que ela está falando. Ela então estrala os dedos, e passa a mão em frente ao rosto dele tentando chamar lhe a atenção e pergunta:

_Você me ouve?

Ele com ar sereno e calmo a olha e diz estralando os dedos na cara dela:

_Alto e claro! Ambos riem e ela continua:

_Acho que te devo uma explicação para tudo isso né? E pensa alto:

_”Se eu ao menos tivesse uma explicação!”

Ele como um verdadeiro cavalheiro diz, que ela não tem de lhe explicar nada! E pedi desculpas por tê-la assustado naquela madrugada. Quando é interrompido:

_Para onde estamos indo? Pergunta ela!

_Isso sou eu quem lhe pergunta. Onde quer ficar?

Ela por alguns instantes fica calada sem saber se pode confiar nele e falar onde está hospedada, e ele percebendo que ela está um pouco tensa diz:

_Sei onde vende um delicioso cachorro quente aqui perto! Aceita?

Como ela mal havia comido o lanche no “bar do mulato” que devido aos homens do caminhão tiveram de sair as pressas, olha para ele e concorda com a cabeça, ainda um pouco receosa por ficar na rua com toda aquela gente atrás dela.

Ele anda um pouco mais com o carro e para em frente a uma pequena lagoa que agora reflete a luz da lua. Ela fica no carro enquanto ele desceu para pegar os lanches. Pouco depois, ele volta e a encontra distante, e relembrando tudo o que houve.

Depois de comerem mudos sem trocar palavra sequer. Ele para e fica a olhando intensamente!

Ela como que encantada com o olhar daquele bom homem percebe que ele a deseja e faz menção de querer ir embora. Antes que ela abra a porta do carro, ele diz:

_Posso lhe mostrar uma coisa?

Ela responde que sim. Então ele desce. Da à volta no carro e abre a porta para ela descer. Ela desce. Ambos caminham até a beira da lagoa. Ele um pouco atrás dela diz:

_Vê o reflexo da lua n’água?

Ela afirma que sim. E ele continua:

_Mesmo que a água não queira a luz da lua ira se refletir ali. E sempre que tiver uma linda lua presente o reflexo também estará ali!

Ele não era muito bom em criar poemas ou frases de efeito, mas estava ali tentando lhe falar algo.

Ela então se virá para ele e o olha nos olhos. Ele um pouco sem graça apenas a observa esperando que ela diga algo. Mas ela ao invés de dizer algo, apenas o observa esperando que ele termine o que começou a dizer e quem sabe a tome uma iniciativa.

Nesse momento, uma pequena folha cai da árvore se alojando nos cabelos dela. Ele com delicadeza tira a pequena folha enquanto ela fecha os olhos como quem vai receber um carinho.

Ele a pega forte, e a puxa contra o seu corpo dando-lhe um beijo com sofreguidão! Um beijo “caliênte”, doce, quase um tornado, e torcendo para ela não esquecer jamais daquele beijo e quem sabe despertar nela o interesse em permanecer ao seu lado mais um pouco!

Enquanto era beijada, ela se recordou do que ele havia dito sobre o reflexo da lua n’água e como quem tem lampejos de memória, ela viu diversas cenas passar em sua cabeça, uma música instrumental de “Kenny G”, tocava no carro, e a ajudou a ter essas lembranças mal definidas.

Então num repente de memória ela se recorda de luzes refletidas n’água, de música do tipo clássica, e por fim de um maço de cartas sendo postas em um armário e fechadas com uma pequena e estranha chave.

Ela se assusta com tais memórias. E em seguida lembrasse-se da chave pendurada em seu pescoço numa pequena corrente. Ela se afasta um pouco dele com uma cara de espantada e passa a mão pelo pescoço, ainda em breves memórias se recorda de estar com uma corrente prateada que agora sentia falta. Lembrasse então da viela onde se escondera naquela madrugada e sai correndo sem dizer uma palavra para Marcus que fica parado atônito e sem saber o que a fez agir assim.

Ele dá um passo à frente e pergunta quase gritando o seu nome.

Ela uma para trás e grita:

_Euclécia! Meu nome é Euclécia! E sai correndo como quem pudesse ter as soluções dos seus problemas!

Ele fica parado olhando aquela garota mais uma vez desaparecer e pensa: “Que beijo Euclécia! Que beijo!”

(......)9